quarta-feira, 11 de março de 2015

Ansiedade
é da idade
é a saudade
do que não foi
É um querer ser 
Sem poder
É a procura irrefreável
pela verdade
Tem também um quê de vaidade
uma crença de estar adiante
do próprio tempo
De querer chegar na frente
De saber antes o que ninguém sabe
É, na verdade, um misto de não sei o quê
unhas roídas, coração em sofrimento
É a agonia de um lamento
por tudo aquilo que é inevitável
(mariana lira)

sábado, 7 de março de 2015

Lutar pela sua existência. Resistência.

Recentemente eu passei por mais um dos meus ciclos de revolta. Engraçado que, ao usar tal expressão, uma amiga me disse ser essa uma designação muito chique para um sentimento comum e arbitrário: a frustração. Eu argumentei com ela que, afinal, não era só frustração. Era um amontoado de coisas: raiva, cansaço, revolta, inveja (você nunca?!), auto-tirania e, enfim, a tal da frustração. Tudo junto e mistura, desmoronando bem na minha cabeça.

Ora, não vá me dizer que nunca, nunquinha, teve um ciclo de revolta. A vida não é perfeita e nós somos seres acumuladores de expectativas. Esperamos o sorriso perfeito, o emprego perfeito, a casa dos sonhos, aquela viagem fantástica e a tal da realização, cujo limite a nós imposto se aloja lá pelos trinta anos. Pois. Eu tenho trinta anos e a tal da realização ainda não aconteceu. O problema é que eu vejo muita gente ao meu redor, gente mais nova do que eu, dando certo e eu, infelizmente, só tenho dado errado. Vai ver que eu não tenho estrela, ou a lua não estava apontada para o meu bumbum quando do meu nascimento. O fato é que eu tenho esperado demais, ansiado demais, e nada - nadinha mesmo -, acontece.

Então eu me sinto no limbo - um lugar entre a vida que me foi dada e aquela pela qual eu tanto anseio. Pareço correr, parada, sem conseguir sair do lugar, enquanto os demais competidores me atravessam, felizes, ocupando os primeiros lugares do pódio. Acontece que é difícil aceitar a vida como ela é. Imperfeita; azeda e doce ao mesmo tempo; singular e tão banal; surreal e tão corriqueira. Difícil mesmo é aceitar que, queira ou não queira, alguns vão se dar melhor na vida do que a gente. Vixe... isso é difícil de engolir. (Sabe como é: sou de escorpião).

Durante os ciclos de revolta eu me transmuto para dentro de mim mesma. Prefiro a reclusão solitária a fim de não espalhar pelo mundo o amargor dos meus olhos tristes e cansados. Assim, protejo a mim e ao outro que, coitado, não tem culpa alguma de nada. Sumo por alguns instantes, dias, décadas para, então, ressurgir reluzente e refeita, como uma fênix que, apesar das derrotas, ergue-se da dor para, mais uma vez, lutar pela sua existência. Resistência.


segunda-feira, 2 de março de 2015

Coração palpitando, ar rarefeito, disritmia e essa eterna agonia de nunca acontecer nada.

Meu silêncio anda ensurdecedor. Particularmente barulhento. Ele me azucrina com suas conjecturas e lamentos, enquanto me atormenta com milhões de acusações. Sobram-me as indagações acerca do seu palavriado, o qual me torturam com seus por quês desconcertantes. Por vezes, sou prisioneira deste sem número de vozes que, mudas, gritam verdades indizíveis. Eu odeio meu silêncio. Odeio não estar em paz.

Essa "algazarra interior" não estaria aí caso estivesse tudo certo. E tudo certo, para mim, é sinônimo de felicidade. É o poder fazer pequenas coisas que, na maresia, a gente dá pouco importância tamanha sua trivialidade. É o poder dizer-se livre, ir aonde se quiser, fazer o que dá na telha, ter dinheiro no bolso. Se a paz pode ser comprada?! Ora, é claro!

Não que eu seja mercenária. Não é isso. Gosto de dinheiro (é pecado?!). Gosto da tranquilidade que o dinheiro dá, da certeza firme de sua presença e de todas as coisas as quais são possibilitadas pelo dinheiro. Mas eu vivo em tempos nos quais, apesar das batalhas, não há recompensas. Há trabalho duro; o que não me sobra é paciência.

Resiliência. Palavrinha entrometida, muito presente nas minhas conversas ultimamente. É preciso ter sapiência para enfrentar as dificuldades, aceitar as verdades e tentar acertar o prumo. É que resiliência tem sido meu café, almoço e jantar. Tenho tido resiliência demais e vitórias de menos. E é chato - muito chato -, não ter sucesso. E chato mesmo, apesar de toda a resiliência, de todo o esforço e batalha, é ouvir um coro  estridente de que você é detentor da culpa por toda e qualquer falha. Ah, vão a merda!

O pior é que as pessoas, coitadas, não são culpadas. Elas me fitam, simpática, cheia de sorrisos, e logo deduzem que eu estou na crista da onda, gozando da boa vida, esbanjando boa ventura. Mal sabem elas que o meu silêncio urra!! Esse silêncio, do qual sou escrava, me atormenta dia e noite com as angústias - escancaradas, purulentas e fedidas.

Essa batalha comigo mesma me cansa. Ando cansada do barulho, dessa briga inteira. Coração palpitando, ar rarefeito, disritmia e essa eterna agonia de nunca acontecer nada.

(Mariana Lira)