quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O meu problema é que eu não consigo ficar calada. Isso é ponto pacífico. Sou boquirrota. Muita gente já me alertou acerta do fato de eu ser um verdadeiro pé no saco para quem não está nem aí. Outras gentes já me pediram para parar de reclamar e viver a vida. Mas, eu não consigo. Cresci sob a égide da contestação, criada por pais fãs de Chico e Elis e, iguais a mim, ávidos por um país melhor para todos nós. 

Hoje, entretanto, eu estou em choque. Esse sonho tão lindo, de construir uma sociedade multipla, está prestes a ser cancelado por vinte anos. Vinte anos nos quais os pobres serão mais pobres, a classe média vai ser apenas isso - mediana - e os mais ricos rirão da nossa desgraça. É a PEC 241 anunciando que os anos de chumbo estão prestes a regressar. Disfarçados. Bonitinhos. Quase democráticos. Mas vão voltar. 

Em linhas gerais, a tal PEC (Projeto de Emenda à Constituição) estabelece um limite de gastos para os próximos 20 anos. A partir de 2017, o orçamento do ano seguinte deverá ser estritamente igual ao do anterior. Caso o Estado não consiga cumprir com tais metas, as punições são, entre outras coisas, vedação à contratação de novos agentes públicos e à realização de novos concursos. Isso vale para os três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário. Salário mínimo será congelado. Educação e Saúde terão seus investimentos cortados na carne. Foda-se o mínimo necessário. Foda-se o objetivo de construir uma sociedade livre, justa e solidária. Foda-se o Brasil. 

O pior é que, como a Globo (obviamente) não está divulgando, as pessoas nem ao menos sabem o que está acontecendo. Eu mesma já indaguei algumas pessoas sobre o conhecimento da PEC e elas simplesmente dizem que não estão sabendo. As perguntas comuns são "do que se trada?!" e a resposta mais vil é "poxa, que horror!". Mas nenhuma reação no sentido de se indignar verdadeiramente. É triste, deprimente e assustador. 

Enquanto isso, o Brasil, quebrado pelos esquerdopatas (foi o que os coxinhas disseram), empresta dinheiro ao FMI. E até p FHC se mobiliza para ir à imprensa afirmar que esta direitização radical pode ser a ruína do Brasil (credo). São tempos difíceis e eu não acredito em mais nada. 

Gostaria de bradar a vocês que eu acredito em uma reação consistente; que o povo, desacordado, irá despertar para essa coisificação de nossa essência, mas a verdade é que eu vejo um futuro sombrio. E vejo mais: o triunfar de um projeto desenhado lá atrás, ainda na promulgação da CF/88, quando o legislativo se deu poderes intermináveis. Parabéns aos arquitetos dessa nojeira toda. 

Eu não vou dizer que não sonho mais. É difícil pra mim não sonhar. Sou uma romântica incorrigível. Quero acreditar nas pessoas, na vida, num futuro lindo, colorido e plural. Quero crer que meu filho, que não é rico, terá, no futuro, a oportunidade de viver num país plural, com chances iguais para todos. Mas isso, num fundo, é puro romantismo. 

Meus heróis morreram de overdose. 



segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Às vezes, só às vezes, eu acho que vou enlouquecer. Você não?! Acho que sim, apenas não tem peito pra externar. Pois é. Vim ao mundo com esse defeito de fábrica: tudo em mim é excesso. Radical. Apocalíptico. Tempestuoso. Tudo em mim existe em carne viva.

Daí o meu achismo sobre a hipotética loucura. Mesmo em em silêncio o meu cérebro ferve. Questiona, brada, briga, reclama. Indaga como algumas coisas são possíveis do jeito que são. E por isso grita. Grita e é toda como louca, briguenta, insuportável. Às vezes eu não caibo em mim.

Pareço guardar, no.mais profundo.de mim, uma necessidade atróz de ser mais, de fazer mais, de poder mãos. Eu quero mais é não quero nada demais. É errado querer? Sonhar, brigar, lutar por um.querer estranho, cheio do desassocego de quem.não tem paz.

Por isso, às vezes acho que vou enlouquecer
 Meu peito tem muito o que gritar. Toda essa dor que vem de tantos anos, séculos distantes, amarga a boca de quem.ja não consegue falar. Sigo muda. Absurda, obtusa
Alheia de mim e do outro.

Daí a loucura passa. Eu respiro profundo e o peito se abre para o que deveria existir. Às vezes eu acho que vou enlouquecer - mas aí eu lembro que quero, um.dia, ser feliz.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Meu amigo Panda

Certo dia, eu conheci um médico que parecia um panda. Isso mesmo: um panda! Mas não qualquer panda: ele parecia com o Kung Fu Panda, o adorável urso Pô que ganhou trilogia animada e milhares de corações ao redor do mundo. Como mãe, o personagem me chegou através das intermináveis seções de desenho proporcionadas pelo meu filho e me provou que, sim, é possível aprender muito com o mundo encantado dos personagens lúdicos.

Tal e qual o Panda Pô, este médico não teve um início de vida fácil. Ainda bebê precisou lutar, praticamente sozinho, contra a morte, a qual tentava prematuramente sequestrá-lo. Foram meses enfiado em uma encubadora, seu corpinho diminuto cheio de fios e manchinhas roxas. Mas ele lutou. Foi um verdadeiro guerreiro. Já naquela época, dava sinais de que enfrentaria grandes batalhas e, de todas elas, sairia vitorioso.

A história do Kung Fu panda é similar. Nascido em uma harmoniosa família de pandas, a qual vivia em uma pacata vila no coração da China, ele foi abruptamente separado de seus pais pela sanha vingativa de um Pavão, o qual tinha como objetivo dominar todo o país. A mãe, por amor ao filho, deixou-o em uma embarcação, da qual não sabia o destino, e sacrificou a própria vida para mantê-lo a salvo. Por sorte, o barquinho levou Pô até o Ganso que seria o seu pai e o criaria com todo o amor.

Já adulto e sem memória dos acontecimentos de sua infância, Pô foi ao encontro de seu destino: tornar-se o Dragão Guerreiro. E, embora nem mesmo ele acreditasse que isso fosse possível, nunca desistiu, persistindo em seu objetivo. Seu Mestre e seus companheiros de kung fu mal podiam crer que um panda, gordo e atrapalhado, pudesse vir a se tornar o mais poderoso dos guerreiros da China. Ao terminar o treinamento e compreender o seu papel, Pô aprendeu que qualquer um poderia ser o que desejasse, bastava apenas um pouco de fé. E, pela fé em si mesmo e no mundo, o panda tornou-se o maior guerreiro da China.

Nas sequências, Kung Fu Panda 2 e 3, a animação apenas reforça os valores os quais tão brilhantemente ensina: que qualquer um pode alçar seus objetivos; que o que vale é o caminho, mesmo que o início da história não tenha sido bom; e que não é possível fugir de nossa essência, daquilo que estamos predestinados a nos tornar. Na terceira e última parte da saga, o Panda finalmente reencontra seu pai e membros de sua família. Entra, enfim, pela primeira vez, em contato com seus iguais. E, mais uma vez surpreendendo, ensina às crianças a importância de se respeitar as diferenças e de crescer pela diversidade e pelo amor. Só assim, então, ele compreende e aceita a sua essência de verdadeiro mestre das artes marciais – e se torna, em corpo e alma, o que sempre esteve predestinado a ser: o Dragão Guerreiro.

Assim eu também enxergo este médico. Eu não sei se ele entende tudo isso. Na verdade, acho que se chateia pois deve crer que o apelido tenha mais haver com as semelhanças físicas e DIVERTIDAMENTE comportamentais. Eu gostaria apenas que ele visse o que eu vejo. Que o fato de ele ser um panda o faz ser ainda mais amado por todos – pois todos amam pandas, isso é fato! Entretanto, há mais! Muito mais! Ver nele o Panda Pô significa, também, enxergá-lo como o Dragão Guerreiro. Como o valente cavaleiro que nunca desistiu de seus sonhos, que acreditou em si mesmo desde o início e que fez de sua história apenas um caminho para que viesse a se tornar o mais belo dos profissionais - aquele que se doa pelo outro, para o outro, numa luta incessante pela vida.


Tal e qual Pô, este médico nunca abandonou seus ideais, seus valores ou seus amigos. Sempre esteve ao lado da verdade, da ética e sempre, sempre foi pela maioria. Muitas vezes colocou-se em segundo plano e fez das tripas coração para se doar por inteiro, sem receber nada em troca, apenas por ter plena ciência da grandeza de seu papel na vida. Seu jeito divertido só deixou a caminhada mais leve e muito mais atrativa. Então, viva ao Doutor Panda! E que o mundo fique repleto de mais e mais pandas – vivemos em tempos nos quais precisamos de muitos Dragões Guerreiros.

É carma, é sarna ou é só piada da vida mesmo

Existem abandonos que se perpetuam no tempo, como lembranças esquisitas do quão inaceitável é a sua presença naquele contexto. São abandonos tácitos, erigidos sob a égide do despreza, do desamor e da descrença. Tácito, mas não velado. Na verdade, é um abandono latente e cruento, o qual grita todos os dias a desimportância da tal existência. É preciso resiliência, todos dizem. Fé no homem, fé no que virá. Mas tudo que a gente consegue é acordar de madrugada e se perguntar que piada filha da puta é essa, que nunca acaba e somente nos mata mais um pouquinho todos os dias. Existem abandonos que são um nascer-se e ser rejeitado todos os dias - como o filho indesejado de algo que não era pra ser.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Meu coração fica do lado Esquerdo do peito



Nasci e cresci num bairro simples - a Campina do Barreto -, na zona norte do Recife. Morava com meus pais, bem perto de uma tia e dos meus avós paternos. Vivia cercada de primos, de sol e de muito carinho. É dos meus anos de meninisse que eu guardo mais saudade. Entretanto, acima de tudo - do carinho, do amor, do cuidado -, eu vivia cercada de valores. Aprendi, desde cedo, que todos nós, sem exceção, somos iguais e que não há no mundo ninguém melhor ou pior do que o outro (com algumas poucas exceções). Desde cedo, entendi que era melhor dividir para multiplicar e que a vida se faz com muita luta, honestidade e garra. De outro modo não dá.

A década em que nasci, os idos anos de 1980 e companhia, foi apelidada de perdida. O país estava quebrado. O milagre econômico dos militares implodiu, como uma bomba atômica, mostrando os mandos e desmandos dos anos de chumbo. Convivíamos com uma inflação entre 200 e mais de 400%, salários congelados e com a necessidade do abastecimento de contingência, pois temia-se a subida vertiginosa e repentina dos preços e o consequente desabastecimento. O cálcio era garantido nas famosas filas do leite e as pessoas se tornaram os "fiscais do Sarney", uma tentativa que partiu de uma população esfacelada pela guerra econômica.

Mas criança é blindada dessas coisas, né?! E eu pouco me lembro desses momentos funestos da minha história. O pouco que sei se deve ao enorme esforço que meus pais fizeram para que nós tivéssemos memórias e não nos tornássemos anencéfalos. Do que eu me lembro bem é de ouvir, na vitrola dos meus pais, o Chico, o Caetano e o Vandré entoando gritos de ordem que marcaram uma época. Quando criança eu não sabia, mais de 80 a 85 ainda convivíamos com mortes, tortura e desaparecimento daqueles que ousavam lutar por um outro país. Quando me dei por gente e pude entender tudo o que havia acometido o Brasil naqueles vinte anos negros, tomei asco por essa gente - a qual se acha mais gente do que nós, pobres mortais.

Cresci, tornei-me petista, admiradora das causas sociais e militante - hora ativa, hora paciente e adormecida. Mas sempre militante. Não poderia ser diferente, visto que meu coração fica do lado esquerdo do peito. E é por isso que esse músculo saltitante petrificou-se ao ouvir, quando da votação tresloucada pela abertura do processo que visa ao impedimento da Presidente (honesta, valente e cabra da peste), a homenagem do "excelentíssimo" senhor Deputado Federal (representante do povo, viu?!?!) Jair Bolsonaro ao falecido (graças a Deus) Coronel Ustra.

A citada figura foi chefe comandante do Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São Paulo, no período de 1970 a 1974, e tornou-se, em 2008, o primeiro militar do período ditatorial a ser enquadrado legalmente como Torturador. Foi esta figura a quem o digníssimo deputado citado rendeu suas homenagens Ustra foi comprovadamente acusado de torturar mulheres, inclusive grávidas, com práticas de uma crueldade acima de qualquer perversidade imaginável - enfiava ratos em suas vaginas; as amarrava com fios desencapados e as eletrocutava; deixava-as nuas, em pelo, moribundas, em salas escuras a apodrecer com seu próprio sangue e com suas fezes. Uma de suas vítimas, por sinal, foi a senhora Presidente da República Dilma Rousseff.

Por isso, e por muito mais (que, de tanta coisa, não caberá neste texto), é que eu me sinto na obrigação de tornar-me, mais uma vez, militante ativa. Quero e preciso militar pelo país dos sonhos torturados da Dilma. Nem tanto como militante, mas mais como mulher e como mãe, sinto-me na obrigação de lutar contra essa sociedade apodrecida a qual nos tornamos. Até para no futuro não contradizer os ensinamentos que, hoje em dia, procuro incutir em meu filho. Somos todos iguais. Temos, todos nós, na mesmíssima proporção, direitos e deveres os quais precisam ser respeitados. Porque, caro leitor, quando a gente se põe do outro lado, perde a chance de exercitar a humanidade que Deus nos deu. Perde a oportunidade de construir um mundo melhor. Perde, por fim, o direito de ter qualquer direito.

Por ser essa mulher - e por todas as outras mulheres que lutam diariamente -, hoje e sempre eu serei Dilma. Para que no futuro eu possa ser Mariana - de cara e de consciência limpas.

Mariana Lira

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Nunca, em tempo algum, as minhas crenças poderão ser tidas como a face solitária de uma verdade totalitária



Minhas verdades são como castelos de areia: belos, impressionantes e frágeis. Fortalecê-las é tarefa árdua, complicada, pois que lidamos com um sem número de interferências, limitações e opiniões as quais fazem tais versões da realidade aparentarem terem sido formuladas por uma cabeça aparentemente doentia. Entretanto, por outro lado, como não pensar em verdades múltiplas? Como não acreditar em várias versões de um mesmo fato, sem refutar por completo as teorias multidimensionais de Einstein? Se a minha compreensão é correta, elas afirmam categoricamente que vivemos entre mundos paralelos, nos quais eu e você podemos estar vivendo "realidades" completamente diferentes.

Debater verdade na sociedade em que estamos, é pisar em campo minado, caminhar sobre cascas de ovos. Ao mesmo tempo que é terreno fértil, é também perigoso e acidentado. Simplesmente por que as pessoas realmente acreditam na louca teoria de que suas verdades são mais verdades - ou são a única verdade -, num mundo permeado por mais de 7 bilhões de consciências. Os pseudo-cientistas são os piores, há que se falar. Baseados nos montes de livros lidos, eles criam argumentos engessados, os quais transforam o mundo numa realidade unidimensional e, devo dizer, bastante chata. É monótono não se reconhecer e não se aceitar a pluralidade de verdades existentes em uma única informação. Afinal, o que é verdade para mim pode não ser verdade para você. É assim. 

Gosto de usar o filme "As aventuras de Pi", de 2012, dirigido por Ang Lee e estrelado por Suraj Sharma (o Pi da história) como exemplo, É óbvio: eu não vou contar a história, pois espero sofregamento que, caso ainda não o tenha assistido, este post desperte sua curiosidade. Com imagens surpreendentes e um enredo de tirar o fôlego, o personagem Pi relata suas aventuras enquanto náufrago para tentar provar a existência de Deus. E ele vai mais além: prova (pelo menos no contexto das minhas verdades) que Deus é, antes de mais nada, uma face do divino que habita cada um de nós, a criação mais fantástica da mente humana. E uma das maiores verdades do mundo moderno. Talvez a única que ainda desperte em nós a nossa porção melhor, de paz e de esperança. 

Diante disso, como eu posso não me curvar à máxima de que convivemos em um mundo de múltiplas verdades e que, muito mais, precisamos ter olhos, mentes e corações bem abertos para aceitar essa multiplicidade sem pisar no outro ou provocar discórdias? Como eu posso ser arrogante ao ponto de acreditar que neste mundo multidimensional só eu falo coisas certas, verdadeiras e críveis? Não, eu não me dou a esse direito. Carrego em mim a verdade fundamental: a de que somos seres múltiplos, agraciados com a capacidade de pensar, deduzir e de imaginar verdades mil e que nunca, em tempo algum, as minhas crenças poderão ser tidas como a face solitária de uma verdade totalitária. 

Escrevo esse texto com tristeza e esperança. Triste estou por encontra-me num mundo de vozes fascistas, com seus argumentos engessados e cruéis; Esperançosa por ainda ver que a maioria das pessoas permite-se, cada vez mais, criar um mundo colorido, múltiplo, multidimensional, multicor. 

Qual é a sua verdade, caro leitor?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Eu não tenho opcionais.

A infelicidade não é um opcional. Ninguém escolhe ser infeliz. Na verdade, somos criados para o sonho,  para a felicidade, para o irreal que deixa a vida bela. Mas a realidade, na verdade, é uma velha sorrateira e maldita, que anda, assustadora, mostrando o fel do mel que nos é vendido. E nos vendem tanta coisa! Um mundo de possibilidades: trabalhar no que gosta, casar com o grande amor, ter dinheiro pra tudo, viajar, correr o mundo e sorver da vida todos os grandes prazeres. Só que a vida é um amontoado de afazeres, de labores sem prazeres, de um correr eterno sei lá pra onde. Seguimos sem rumo, sem prumo, desorientados; acreditando que o norte para onde vamos é o lado certo. E aí a vida mostra que é uma esfera: uma forma sem lados, sem avesso, onde a gente fica dando voltas como perus desnorteados. A infelicidade, por certo, não é um opcional.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Um cigarro, por favor

Hoje eu sõ queria um trago. Absorver-me inteira, interiorizar-me. Inebriar-me de mim mesma junto com a fumaça doce de um sampoerna. Mas, acabou o cigarro. Acabou, assim como acabou a paz dos dias calmos. E tudo o que eu queria era um cigarro.

Tenho desejos simples e ambições amiudadas. Estaria feliz com uma casa própria, um carrinho pra passear e dinheiro no banco. Sou a brasileira mediana, que sabe ter que trabalhar para viver o glamour. Mas nem isso. Meus dias têm sido magros. Esgotou-se até mesmo a esperança.

Sou dessas que acredita em carma, vidas passadas e na bagagem que nos pesa a alma de uma vida para outra. Aliás, acredito mesmo em quase tudo, basta ser absurdo. E por acreditar nessas loucuras todas eu me nutro com um sem número de porquês, os quais me azucrinam dia e noite - ensurdecedores. Seria karma? Pequenas penalidades por comportamentos escusos de outras vidas? Ou só mesmo esse destino filho da puta que me quer aqui, prisioneira?

Eu só queria um trago. Pra libertar a alma, deixar voar, levar com essa fumaça as dores que me maceram a alma, tão carrascas.

Hoje eu só queria um trago...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Sobre o que você anda pensando?

Alguma vez você já se fez alguma dessas perguntas:

- Eu realmente penso no que deveria pensar?
- Será que o pessoal da televisão tem uma bola de cristal, com a qual conseguem ler meus pensamentos?
- Qual será a razão de determinados assuntos virem sempre à tona nas minhas conversas (se, em verdade, a maioria deles ou não me atinge ou não faz parte da minha realidade)?

Se você tem o mínimo de censo crítico, sou capaz de apostar que, em algum momento da sua existência, questionou o papel dos meios de comunicação em suas decisões - mesmo nas mais banais. E há explicações e respostas para todos estes por quês.

A comunicação, enquanto área de estudo, abarca um sem número de teorias, iniciadas por volta da década de 1920, as quais tentam explicar que tipo e qual a extensão dos efeitos da comunicação de massa em nossas vidas. Três delas me chamam especial atenção: As Teorias da Espiral do Silêncio, do Agenda Setting (ou Agendamento) e do Gatekeeper. Juntas, elas traçam um modelo piramidal, o qual elucida como nos acomodamos diante das imposições dos média.

 A Teoria da Espiral do Silêncio, proposta na década de 1970, pela cientista alemã Elisabeth Noelle-Neumann. afirma, em linhas gerais, que as pessoas omitem suas próprias opiniões, quando conflitantes com a dominante, por medo do isolamento. Isso significa dizer que a opinião pública cria-se com base nesse binômio "medo do isolamento/aceitação de opinião dominante", pois os indivíduos, por valorizarem suas relações sociais, amoldam-se a discursos prontos para não serem excluídos do grupo.

A Teoria do Agenda Setting ou Hipótese do Agendamento, por sua vez, também formulada na década de 1970, por Maxwell McCombs e Donald Shaw, afirma, em poucas palavras, que a Imprensa não diz à sociedade como pensar, mas SOBRE o que pensar. Assim, os temas que frequentam os média, terminam por criar uma agenda a qual, por conseguinte, se tornará a agenda do público. Tais temas, de uma hora para outra, de tanto serem repetidos, acabam por tomar as rodas de conversa e a serem recorrentes nos comentários e argumentações das mais diferentes pessoas.

Por fim, a Teoria do Gatekeeper, formulada na década de 1950, pelo psicólogo Kurt Lewin, afirma que o processo de escolha das notícias é subjetivo e arbitrário, passando por diversos portões (Gates), os quais são monitorados por guardiões - os Jornalistas. Estes, armados pelo que chamamos de "valores-notícias", teriam o poder de ditar os assuntos que serão ou não notícia.

Cada teoria, à sua forma, cria um processo que alimenta a outra. A imprensa define os assuntos que serão notícia; com isso, cria um agendamento, o qual acabará por tornar-se também agenda do público; e nós, os espectadores, ao sermos atacados por todos os lados por discursos pré-concebidos, acabamos por ocultar nossa opinião pessoal por medo do isolamento. E é o que acontece conosco todos os dias. Tacitamente, nos colocamos em frente à televisão ou ao computador e aceitamos os discursos fabricados por uma mídia, a qual, com certeza, não trabalha em prol do povo. Basta lembrar que os grandes conglomerados de comunicação brasileiros têm como donos políticos de índole, no mínimo, duvidosa (vide Sarney e Collor, só para citar).

A solução para escapar das armadilhas deste ciclo vicioso é procurar informação idônea em instrumentos independentes (blogs, jornais e TVs), pois eles existem. É preciso, também, exercitar o senso crítico, analisar as notícias no mais profundo do seu âmago, questionar os discursos ali presentes, ler nas entrelinhas e enxergar as mensagens subliminares as quais tentam nos tornar reféns da nossa própria ignorância. Apenas assim, senhores de nossas opiniões, despidos do véu o qual mascara nosso real papel no mundo, é que poderemos nos afirmar enquanto cidadãos ativos e contribuir para uma efetiva melhora deste planeta chamado Brasil.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Quando eu conheci o Paulo

Quando eu conheci o Paulo, ele já não era o Paulo. Era o Bobô. Uma mistura malemolente de "bebê com meu amor", apelido dado pela família que o adotara quando aos 3 meses de idade. Bobô era, enfim, um menino serelepe, de jeito moleque, sorriso feliz e com um coração tão gigante quanto sua própria essência. Sua família se referia a ele como um anjo mandado para reformar-lhes a vida, restabelecer as relações e fortalecer os laços. Era, enfim, o xodó da casa.

Ainda bebê, estreou na vida com uma história de violência. Sofreu coisas que ninguém deveria sofrer, muito menos uma criançça, mas foi abençoado com o maior amor do mundo. Foi amado, acarinhado, mimado e muito cuidado. Cercado por tanto amor, ele não poderia crescer de outro jeito: tornou-se um adolescente boa praça, gentil, amistoso, que estava sempre sorrindo, agarrado aos irmãos e ao pai.

Guerreiro desde bebê, ele havia sido salvo de um destino trágico por um outro anjo, que o acolheu como mãe, parindo-o em seu coração, como ela mesma gostava de dizer. Dizia, também, que sua vida ganhara sentido com a chegada de Bobô e que era por conta dele que ela ainda resistia a um sem número de doenças que a tentavam derrubar. E foram anos e anos resistindo. Sempre com o argumento de que era por ele e para ele. Em 2011, quando seu quadro agravou-se e ela não resistiu, nós vimos um pouco da alegria de Paulo ir-se também.

Do aparteamento materno, restaram o pai e os irmãos, sempre amantíssimos. No lugar da mãe, ficou sua irmã, que praticamente o adotara como a um filho. A relação dos dois ela linda. Forte e linda. Cheia de uma intimidade que só existe entre uma mãe e um filho que se amam profundamente. Ela tomou-lhe em seus braços e o fez seu menino, vendo-o crescer e desenvolver nos milhares de planos maravilhosos que sempre nutrira para ele.

Mas a vida, apesar do chavão, é mesmo uma chama. Lépida, lucubre e frágil, a qual pode apagar-se a qualquer momento. E assim, tão de repente quanto chegou à família, Paulo - o Bobô -, foi retirado de cena para ver outras paisagens. No auge dos seus 16 anos e com um futuro inteiro pela frente, ele, que era tão saudável, foi acometido por um aneurisma e não resistiu à força da traiçoeira doença. Foram muitos os esforços para mantê-lo, mas o plano de Deus era outro. Era, por certo, muito maior.

Teoria há muitas. A que eu mais acredito, no entanto, é que Bobô veio com uma missão muito bem delimitada e a cumpriu com maestria. Uniu uma família em amor, deu sobrevida a um espírito de luz para que pudesse ajudar milhares de tantos outros desgastados e sofridos e ensinou amor. Simplesmente amor. Paulo era um anjo.

Bobô era meu cunhado. Dona Silvana era minha sogra. E eu tenho plena convicção de que eles eram almas afins, com missões entrelaçadas. Agora, em outro plano, por certo mais evoluído, eles nos ajudarão a entender os profundos mistérios da vida e os porquês da nossa existência. Ao meu marido, aos meus cunhados e, principalmente, ao meu sogro e seu pai, eu digo: contem comigo.

Mariana Lira


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A vida pede passagem
Grita
Urge
Surge
Manda
Ignora
Apavora
Espanta
Encanta
Afasta
Aproxima
A vida ensina
Essa vida insana
É a mesma que pulula
Traiçoeira
No frágil flamejar de uma chama.

(Mariana Lira