sábado, 30 de janeiro de 2016

Um cigarro, por favor

Hoje eu sõ queria um trago. Absorver-me inteira, interiorizar-me. Inebriar-me de mim mesma junto com a fumaça doce de um sampoerna. Mas, acabou o cigarro. Acabou, assim como acabou a paz dos dias calmos. E tudo o que eu queria era um cigarro.

Tenho desejos simples e ambições amiudadas. Estaria feliz com uma casa própria, um carrinho pra passear e dinheiro no banco. Sou a brasileira mediana, que sabe ter que trabalhar para viver o glamour. Mas nem isso. Meus dias têm sido magros. Esgotou-se até mesmo a esperança.

Sou dessas que acredita em carma, vidas passadas e na bagagem que nos pesa a alma de uma vida para outra. Aliás, acredito mesmo em quase tudo, basta ser absurdo. E por acreditar nessas loucuras todas eu me nutro com um sem número de porquês, os quais me azucrinam dia e noite - ensurdecedores. Seria karma? Pequenas penalidades por comportamentos escusos de outras vidas? Ou só mesmo esse destino filho da puta que me quer aqui, prisioneira?

Eu só queria um trago. Pra libertar a alma, deixar voar, levar com essa fumaça as dores que me maceram a alma, tão carrascas.

Hoje eu só queria um trago...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Sobre o que você anda pensando?

Alguma vez você já se fez alguma dessas perguntas:

- Eu realmente penso no que deveria pensar?
- Será que o pessoal da televisão tem uma bola de cristal, com a qual conseguem ler meus pensamentos?
- Qual será a razão de determinados assuntos virem sempre à tona nas minhas conversas (se, em verdade, a maioria deles ou não me atinge ou não faz parte da minha realidade)?

Se você tem o mínimo de censo crítico, sou capaz de apostar que, em algum momento da sua existência, questionou o papel dos meios de comunicação em suas decisões - mesmo nas mais banais. E há explicações e respostas para todos estes por quês.

A comunicação, enquanto área de estudo, abarca um sem número de teorias, iniciadas por volta da década de 1920, as quais tentam explicar que tipo e qual a extensão dos efeitos da comunicação de massa em nossas vidas. Três delas me chamam especial atenção: As Teorias da Espiral do Silêncio, do Agenda Setting (ou Agendamento) e do Gatekeeper. Juntas, elas traçam um modelo piramidal, o qual elucida como nos acomodamos diante das imposições dos média.

 A Teoria da Espiral do Silêncio, proposta na década de 1970, pela cientista alemã Elisabeth Noelle-Neumann. afirma, em linhas gerais, que as pessoas omitem suas próprias opiniões, quando conflitantes com a dominante, por medo do isolamento. Isso significa dizer que a opinião pública cria-se com base nesse binômio "medo do isolamento/aceitação de opinião dominante", pois os indivíduos, por valorizarem suas relações sociais, amoldam-se a discursos prontos para não serem excluídos do grupo.

A Teoria do Agenda Setting ou Hipótese do Agendamento, por sua vez, também formulada na década de 1970, por Maxwell McCombs e Donald Shaw, afirma, em poucas palavras, que a Imprensa não diz à sociedade como pensar, mas SOBRE o que pensar. Assim, os temas que frequentam os média, terminam por criar uma agenda a qual, por conseguinte, se tornará a agenda do público. Tais temas, de uma hora para outra, de tanto serem repetidos, acabam por tomar as rodas de conversa e a serem recorrentes nos comentários e argumentações das mais diferentes pessoas.

Por fim, a Teoria do Gatekeeper, formulada na década de 1950, pelo psicólogo Kurt Lewin, afirma que o processo de escolha das notícias é subjetivo e arbitrário, passando por diversos portões (Gates), os quais são monitorados por guardiões - os Jornalistas. Estes, armados pelo que chamamos de "valores-notícias", teriam o poder de ditar os assuntos que serão ou não notícia.

Cada teoria, à sua forma, cria um processo que alimenta a outra. A imprensa define os assuntos que serão notícia; com isso, cria um agendamento, o qual acabará por tornar-se também agenda do público; e nós, os espectadores, ao sermos atacados por todos os lados por discursos pré-concebidos, acabamos por ocultar nossa opinião pessoal por medo do isolamento. E é o que acontece conosco todos os dias. Tacitamente, nos colocamos em frente à televisão ou ao computador e aceitamos os discursos fabricados por uma mídia, a qual, com certeza, não trabalha em prol do povo. Basta lembrar que os grandes conglomerados de comunicação brasileiros têm como donos políticos de índole, no mínimo, duvidosa (vide Sarney e Collor, só para citar).

A solução para escapar das armadilhas deste ciclo vicioso é procurar informação idônea em instrumentos independentes (blogs, jornais e TVs), pois eles existem. É preciso, também, exercitar o senso crítico, analisar as notícias no mais profundo do seu âmago, questionar os discursos ali presentes, ler nas entrelinhas e enxergar as mensagens subliminares as quais tentam nos tornar reféns da nossa própria ignorância. Apenas assim, senhores de nossas opiniões, despidos do véu o qual mascara nosso real papel no mundo, é que poderemos nos afirmar enquanto cidadãos ativos e contribuir para uma efetiva melhora deste planeta chamado Brasil.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Quando eu conheci o Paulo

Quando eu conheci o Paulo, ele já não era o Paulo. Era o Bobô. Uma mistura malemolente de "bebê com meu amor", apelido dado pela família que o adotara quando aos 3 meses de idade. Bobô era, enfim, um menino serelepe, de jeito moleque, sorriso feliz e com um coração tão gigante quanto sua própria essência. Sua família se referia a ele como um anjo mandado para reformar-lhes a vida, restabelecer as relações e fortalecer os laços. Era, enfim, o xodó da casa.

Ainda bebê, estreou na vida com uma história de violência. Sofreu coisas que ninguém deveria sofrer, muito menos uma criançça, mas foi abençoado com o maior amor do mundo. Foi amado, acarinhado, mimado e muito cuidado. Cercado por tanto amor, ele não poderia crescer de outro jeito: tornou-se um adolescente boa praça, gentil, amistoso, que estava sempre sorrindo, agarrado aos irmãos e ao pai.

Guerreiro desde bebê, ele havia sido salvo de um destino trágico por um outro anjo, que o acolheu como mãe, parindo-o em seu coração, como ela mesma gostava de dizer. Dizia, também, que sua vida ganhara sentido com a chegada de Bobô e que era por conta dele que ela ainda resistia a um sem número de doenças que a tentavam derrubar. E foram anos e anos resistindo. Sempre com o argumento de que era por ele e para ele. Em 2011, quando seu quadro agravou-se e ela não resistiu, nós vimos um pouco da alegria de Paulo ir-se também.

Do aparteamento materno, restaram o pai e os irmãos, sempre amantíssimos. No lugar da mãe, ficou sua irmã, que praticamente o adotara como a um filho. A relação dos dois ela linda. Forte e linda. Cheia de uma intimidade que só existe entre uma mãe e um filho que se amam profundamente. Ela tomou-lhe em seus braços e o fez seu menino, vendo-o crescer e desenvolver nos milhares de planos maravilhosos que sempre nutrira para ele.

Mas a vida, apesar do chavão, é mesmo uma chama. Lépida, lucubre e frágil, a qual pode apagar-se a qualquer momento. E assim, tão de repente quanto chegou à família, Paulo - o Bobô -, foi retirado de cena para ver outras paisagens. No auge dos seus 16 anos e com um futuro inteiro pela frente, ele, que era tão saudável, foi acometido por um aneurisma e não resistiu à força da traiçoeira doença. Foram muitos os esforços para mantê-lo, mas o plano de Deus era outro. Era, por certo, muito maior.

Teoria há muitas. A que eu mais acredito, no entanto, é que Bobô veio com uma missão muito bem delimitada e a cumpriu com maestria. Uniu uma família em amor, deu sobrevida a um espírito de luz para que pudesse ajudar milhares de tantos outros desgastados e sofridos e ensinou amor. Simplesmente amor. Paulo era um anjo.

Bobô era meu cunhado. Dona Silvana era minha sogra. E eu tenho plena convicção de que eles eram almas afins, com missões entrelaçadas. Agora, em outro plano, por certo mais evoluído, eles nos ajudarão a entender os profundos mistérios da vida e os porquês da nossa existência. Ao meu marido, aos meus cunhados e, principalmente, ao meu sogro e seu pai, eu digo: contem comigo.

Mariana Lira


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A vida pede passagem
Grita
Urge
Surge
Manda
Ignora
Apavora
Espanta
Encanta
Afasta
Aproxima
A vida ensina
Essa vida insana
É a mesma que pulula
Traiçoeira
No frágil flamejar de uma chama.

(Mariana Lira