quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Nunca, em tempo algum, as minhas crenças poderão ser tidas como a face solitária de uma verdade totalitária



Minhas verdades são como castelos de areia: belos, impressionantes e frágeis. Fortalecê-las é tarefa árdua, complicada, pois que lidamos com um sem número de interferências, limitações e opiniões as quais fazem tais versões da realidade aparentarem terem sido formuladas por uma cabeça aparentemente doentia. Entretanto, por outro lado, como não pensar em verdades múltiplas? Como não acreditar em várias versões de um mesmo fato, sem refutar por completo as teorias multidimensionais de Einstein? Se a minha compreensão é correta, elas afirmam categoricamente que vivemos entre mundos paralelos, nos quais eu e você podemos estar vivendo "realidades" completamente diferentes.

Debater verdade na sociedade em que estamos, é pisar em campo minado, caminhar sobre cascas de ovos. Ao mesmo tempo que é terreno fértil, é também perigoso e acidentado. Simplesmente por que as pessoas realmente acreditam na louca teoria de que suas verdades são mais verdades - ou são a única verdade -, num mundo permeado por mais de 7 bilhões de consciências. Os pseudo-cientistas são os piores, há que se falar. Baseados nos montes de livros lidos, eles criam argumentos engessados, os quais transforam o mundo numa realidade unidimensional e, devo dizer, bastante chata. É monótono não se reconhecer e não se aceitar a pluralidade de verdades existentes em uma única informação. Afinal, o que é verdade para mim pode não ser verdade para você. É assim. 

Gosto de usar o filme "As aventuras de Pi", de 2012, dirigido por Ang Lee e estrelado por Suraj Sharma (o Pi da história) como exemplo, É óbvio: eu não vou contar a história, pois espero sofregamento que, caso ainda não o tenha assistido, este post desperte sua curiosidade. Com imagens surpreendentes e um enredo de tirar o fôlego, o personagem Pi relata suas aventuras enquanto náufrago para tentar provar a existência de Deus. E ele vai mais além: prova (pelo menos no contexto das minhas verdades) que Deus é, antes de mais nada, uma face do divino que habita cada um de nós, a criação mais fantástica da mente humana. E uma das maiores verdades do mundo moderno. Talvez a única que ainda desperte em nós a nossa porção melhor, de paz e de esperança. 

Diante disso, como eu posso não me curvar à máxima de que convivemos em um mundo de múltiplas verdades e que, muito mais, precisamos ter olhos, mentes e corações bem abertos para aceitar essa multiplicidade sem pisar no outro ou provocar discórdias? Como eu posso ser arrogante ao ponto de acreditar que neste mundo multidimensional só eu falo coisas certas, verdadeiras e críveis? Não, eu não me dou a esse direito. Carrego em mim a verdade fundamental: a de que somos seres múltiplos, agraciados com a capacidade de pensar, deduzir e de imaginar verdades mil e que nunca, em tempo algum, as minhas crenças poderão ser tidas como a face solitária de uma verdade totalitária. 

Escrevo esse texto com tristeza e esperança. Triste estou por encontra-me num mundo de vozes fascistas, com seus argumentos engessados e cruéis; Esperançosa por ainda ver que a maioria das pessoas permite-se, cada vez mais, criar um mundo colorido, múltiplo, multidimensional, multicor. 

Qual é a sua verdade, caro leitor?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Eu não tenho opcionais.

A infelicidade não é um opcional. Ninguém escolhe ser infeliz. Na verdade, somos criados para o sonho,  para a felicidade, para o irreal que deixa a vida bela. Mas a realidade, na verdade, é uma velha sorrateira e maldita, que anda, assustadora, mostrando o fel do mel que nos é vendido. E nos vendem tanta coisa! Um mundo de possibilidades: trabalhar no que gosta, casar com o grande amor, ter dinheiro pra tudo, viajar, correr o mundo e sorver da vida todos os grandes prazeres. Só que a vida é um amontoado de afazeres, de labores sem prazeres, de um correr eterno sei lá pra onde. Seguimos sem rumo, sem prumo, desorientados; acreditando que o norte para onde vamos é o lado certo. E aí a vida mostra que é uma esfera: uma forma sem lados, sem avesso, onde a gente fica dando voltas como perus desnorteados. A infelicidade, por certo, não é um opcional.