quinta-feira, 16 de março de 2017

O dia em que a terra parou



16 de Março de 2017. Ontem, dia 15, foi chamado pela imprensa como "o dia em que a terra parou", em alusão às paralisações que tomaram as ruas, órgãos e empresas públicas espalhadas pelo país. Todas essas pessoas - jovens, velhos, adultos, crianças, funcionários públicos ou privados -, protestavam juntos contra a aprovação da Reforma à Previdência. 

Como petista - esquerdopata, mortadela ou reacionária, como alguns gostam de me chamar -, eu achei lindo. Foi lindo ver as ruas pintadas de vermelho, gritando em uníssono que não - não!! -, não deixaremos que roubem nosso futuro para alimentar bolso de político fanfarrão. Entretanto, como jornalista, realista ou, como já me disseram esses dias, pessimista (foram os anos, eu reafirmo), eu não consigo enxergar legitimidade no movimento. Mais uma vez, as pessoas se uniram em prol de causas individuais e não pelo coletivo da nação. Doeu em seus bolsos e doerá nos bolsos dos seus filhos e netos. 

Os coxinhas agora dizem que somos todos um único povo, que é preciso aglutinar-se em torno de uma pauta única e lutar contra os grilhões de uma política autoritária. Eu, do meu lado, só consigo pensar que é aviltante ouvir esse tipo de declaração de quem, há um ano atrás, foi às ruas depor uma presidenta honesta, democraticamente eleita. Gente que bradou aos quatro ventos querer de volta a ditadura. Gente que bateu em mulher com filho de colo somente por estar usando vermelho em local e hora "errados" (será?!). 

Eu não acho que somos todos um único povo. Somos uma nação flagelada pela ignorância fomentada desde os dias de chumbo, pela luta diária e desarrazoada pelo pão do dia a dia e por não poder dar-se ao privilégio de instruir-se por prazer. Vivemos sob a alcunha de conglomerados midiáticos, profundamente influenciados e influenciadores da política malsã que tanto desacredita o nosso país. E a coisa só vai piorar (sorry!). Com a reforma educacional prevendo extirpar das salas de aula matérias-base como história e geografia, é provável que o nosso país caia ainda mais no abismo da estupidez contra a qual pessoas como meus pais, o Lula, a Marisa e até o próprio FHC (há controvérsias) lutaram quando da abertura política. 

Isso tudo foi para falar do depoimento do Lula, que foi lindo. Lindo como a ideologia que este grande estadista professa. Foi lindo ver seus olhos cheios de verdades, seus argumentos robustos dando nocaltes homéricos em perguntas formuladas para derrubá-lo. Foi lindo ver como suas crenças estão de tal forma enraizadas que não há maneira de dissociar um do outro. O Lula é e sempre será o mensageiro da boa-nova. Eu tenho cá minhas dúvidas se ele voltará a se candidatar em 2018. Como ele mesmo disse, são 71 anos de estrada e ele mal sabe o quanto de vida lhe resta. Ainda mais agora, depois de perder a companheira de lutas, de amor e de história. Acho egoísmo pedir isso de um cara tão gente boa como o Lula. Que ele lute por sua honra, pelo respeito às suas memórias e pelo não desmantelamento de sua história. Tê-lo como Presidente será apenas mais um lucro nessa fantástica aventura que é viver neste país. 

Lula Lá! - Sempre!

(Mariana Lira)