Eu queria ficar muda. Tirar uma
folga desse turbilhão que mora em mim. Mas escritores padecem com os
personagens que adornam de cor, de dor e de confusão suas vidas obscuras e
eremitas. A ideia era ficar out. Tem muita coisa acontecendo. Muitas verdades
se repetindo. Muito passado me engolindo pelo pé. Esse passado, que de fato nunca
passou, hoje me assola com sua presença combustível e gigantesca. Tirou-me do
prumo, tirou-me do eixo.
Entenda. Não é que o presente não
me apeteça. A questão é que a gente vai fazendo escolhas durante a vida e,
quando se apercebe, criou um monstro o qual nos devora todas as manhãs, quando
olhamos no espelho. A crueza dessa verdade é que, se pudéssemos, voltaríamos no
tempo – cada um de nós -, e daríamos uns bons cascudos naqueles jovens que
fizeram tanta merda em seus anos de ouro. Era tão fácil escolher o certo!! Mas
a gente tem medo, não tem grana e nem peito pra enfrentar as consequências.
Somos inconsequentes. Abestalhados mesmo.
Agora estou eu, de frente para um
espelho que somente reflete a menina de 20 anos atrás. É perturbador, sabe?! É
como se, de repente, eu pudesse dizer a ela o que e como fazer, por onde ir e
aonde chegar. É uma liberdade tão grande que chega a amedrontar isso de poder
refazer caminhos e tomar novos rumos. A verdade é que eu quero me livrar dessa
culpa que me pesa os ombros há tantos anos.
Decidi, então, que não vou mais
ficar calada. Sou boquirrota mesmo, pra quê mentir não é mesmo?! Não quero mais
fugir, escapar, desviar o olhar e nem desabar frente as novas realidades as
quais surgirão depois tanto furor. É preciso ser fortaleza, onda que bate na
pedra, e de tanto bater, fura. Não vale a pena falsear esse tudo que existe
dentro de mim. Não depois de tantos percalços.
O engraçado é que, de uma hora
para outra, virei uma leoa. Creio que seja medo de perder um tempo maior ainda.
Medo de encarar uma vida sem porquês, sem efeito, mas cheia de defeitos. Ando
querendo sentir tudo na pele, na carne. Ando à flor da pele, como me lembra
sempre o Zeca. Não quero digerir mais nada; a ideia é vomitar esse escárnio que
me envenena a alma, envelhece as faces e bloqueia meus passos – os quais agora
só querem correr.
Então, me desculpem se eu for
grossa ou de repente parecer uma louca. A urgência do tempo não me permite
parar agora. Agora eu só vou embora quando tudo terminar, quando esgotar-se
completamente essa fonte de não sei o quê dentro de mim. Tal e qual um câncer,
é preciso expurga-lo, purificar-me a alma e a existência. E dançar nesse ritmo
até a música, enfim, acabar. Afinal, eu agora sei, nada nunca impede a vida de
acontecer.
Play apertado com muita convicção de que encontraria algo muito profundo e intenso. Encontrei. Admiro tua força. Beijos
ResponderExcluirTe amo, Quel! Obrigada sempre!
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