sábado, 10 de fevereiro de 2018

É de fazer chorar



Não fui ao carnaval em 2018. Fui, sim, a várias prévias, blocos perdidos pela cidade. Mas não fui ao meu carnaval. Às ladeiras da minha Olinda, que outrora me acolheram tão calorosamente. Não ouvi o frevo escaldante, que entra pelo cabelo e acaba no pé. Não fui contagiada pelo tsunami de energia de milhares de pessoas sendo felizes juntas. Este ano, estou órfã de carnaval. 

Foram tantas as razões que eu não sei mesmo precisar o porquê dessa abstinência de Olinda. Não ter com quem deixar o filho, estudos (forçados) acumulados, país precisando de acolhida, grana curta. Todos tão díspares e misturados que não seria mesmo preciso delimitá-los. No fim das contas, há tempos tenho medo das loucuras de Olinda. 

A última vez que estive no sobe e desce daqueles caminhos de paralelepípedo e óleo de baleia, precisamente há seis anos atrás, dei de cara com o encontro continental do Elefantes de Olinda e do Eu acho é pouco. Tudo isso, esse marzão de gente, subindo ou descendo a ladeira da prefeitura. No meio, bem no encontro eletrizante daqueles dois gigantes, estava eu - eufórica e apavorada, tentando sobreviver às suas passagens. De súbito, quando percebi, estava jogada no chão, gritando sem ser ouvida, quase pisoteada por uma multidão que só queria cantar e seguir. Foram 10 ou 20 segundos. Talvez mais, talvez menos. Mas depois disso, fiquei estremecida com o frisson das ladeiras da Marin dos Caetés. 

Este ano, entretanto, voltei a ouvir o chamado de Olinda ecoar dentro do peito. Seus tambores ressoando ferozes, num batuque de tirar o sono, a paz e o juízo. Dentro de mim, Olinda gritou, me chamando, quase em desespero. E eu, atônita, não pude atender ao seu chamado. As minhas ladeiras de Olinda, este ano, vão ter que ficar pra depois. 

Há certas renúncias muito doloridas de se fazer. São negativas à nossa própria essência, às nossas raízes. Uma dor tão imensa que não poderia ser exigida por ninguém, de ninguém. Tais renúncias nos fazem perder a referência de mundo que nos trouxe até este instante. A gente perde o rumo, o prumo, e passa um tempo desnorteado, sem saber como seguir. Perder as ladeiras de Olinda foi dessas renúncias que não poderiam existir. E isso eu não desejo pra ninguém. 

Ano que vem, quem sabe, quando os tambores começarem a tocar nas ladeiras de Olinda, eu possa ouvi-los, atenta, vestir a fantasia e partir, em êxtase, para minhas ladeiras. Este ano, reclusa, sonharei, tristonha, com o frevo que me transporta pra lá. Quem sabe assim, em devaneio, eu possa vivenciar a loucura colorida da massa, ver o Alceu na sua sacada, suar junto com tantos desconhecidos, cansar as pernas naquelas subidas enfurecidas e depois retornar tranquila para a existência de todos nós. 

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